
Para aqueles que vão ( e também para os que não vão, mas irão...):
Está na hora de tentarmos responder algumas perguntas importantes:
O QUE VAMOS FAZER EM IMBÉ NESTE FINAL DE SEMANA?
Um dos objetivos desta primeira oficina é construir coletivamente uma espécie de leitura "poética" do lugar, registrando nossas percepções, e refletindo sobre essa vivência. E "poesia", aqui neste contexto, significa poiesis, isto é, processo de criação.
A idéia por trás dessa "idéia" é que possamos construir, de forma participativa, um programa coerente, apoiado em nossos modos de ver o ambiente, explorando nossas subjetividades para, em seguida, buscar uma forma objetiva de projet-ação.
Para fazer isso, vamos tentar aplicar tudo o que estamos trabalhando na dsciplina - Freire, Alexander, Lynch - mas, principalmente, nossas habilidades de olhar. As formas de registro são livres: levem os meios e os materiais que acharem mais adequado para isso. Fotografia, desenho, música, textos... são formas de linguagens que podem ser misturadas, traduzidas umas nas outras, como significações arquitetônicas.
Outro objetivo é nos (re) conhecermos, uns aos outros, e todos juntos, transformando esse encontro numa espécie de "namoro" com o CECLIMAR e suas gentes e suas circunstãncias.
Outro objetivo é...................................................... vamos juntos preencher esta linha :)
POR QUE ESTAMOS FAZENDO ISSO?
Porque, apostando com Paulo Freire, esta é nossa forma de intervir no mundo, através do projeto que aponta para uma (re)construção das coisas, com a consciência do inacabamento, da imperfeição, mas também animados pela alegria, pela curiosidade e pela esperança.
E, com Alexander, porque existe uma diferença objetiva entre um bom e um mau habitat humano: uma diferença que se expressa num "sentir-se inteiro", acolhidos em um ambiente integral e integrador, capaz de potencializar a experiência humana.
Não é outra a função da arquitetura, senão elevar a experiência humana, construir dignidade através de pensamentos e tijolos. Alguém já disse (não lembro quem, mas era alguém muito sábio) que a arquitetura é a construção intensificada pelos sentidos:
(…) Si Ezra Pound afirma que poesía es la lengua cargada de sentido en el mas alto grado possible, "la lengua intensificada", y Auguste Perret plantea que la arquitetctura es la poesía de la construcción, podríamos proponer que la arquitectura es la construccion cargada de sentido en el mas alto grado possible, "la construccion intensificada".
Porque, como sujeitos que coletivamente (re)criam cotidianamente uma instituição chamada UFRGS, como parte desta comunidade acadêmica que nos ultrapassa no tempo e no espaço, estamos comprometidos: um compromisso que conecta os fazeres próprios da arquitetura com os quefazeres implicados em nosso crescimento, como arquitetos e como cidadãos.
Porque... en realidad nuestro norte es el sur.... como disse Joaquín Torres Garcia, para possamos saber onde estamos. Assim, é preciso sulear (uma palavra inventada por Paulo Freire) nossa atitude, abrindo espaço para que a arquitetura seja um direito expresso em nossa cidadania.
QUAL A IMPORTÂNCIA DISSO TUDO?
Além da possibilidade da realização em si, isto é, de que nossa contribuição ao CECLIMAR possa transformar-se em projetos concretos e que serão executados, penso que a maior importância está no processo de, reunidos, sermos capazes de ultrapassar o egocentrismo do indivíduo, que tanto marca a arquitetura contemporânea, na direção da construção coletiva.
Eis, pois, um caminho que, esperamos, nos leve a compreender um modelo diferente de arquitetura e de arquiteto, insurgentes em relação ao deixar-se levar, tão passivamente, pelo estado aparentemente irreversível das desigualdades e das injustiças. Ou, dito de outro modo:
- insurgente, urgente, gente... já falamos nisso, não?
Assim, as palavras de Paulo Freire, em forma de poesia, nos ajudam a pensar em tudo isso, quando, na "Canção óbvia", ele diz:
Quem espera na pura espera
vive um tempo de espera vã.
Por isto, enquanto te espero
trabalharei os campos e
conversarei com os homens.
Suarei meu corpo, que o sol queimará,
meus pés aprenderão os mistérios dos caminhos;
meus ouvidos ouvirão mais;
meus olhos verão o que antes não viam,
enquanto esperarei por ti.
Não te esperarei na pura espera
porque meu tempo de espera é um
tempo de quefazer.
Canção óbvia, Paulo Freire
Desejo, sinceramente, que a nossa aventura deste próximo final de semana seja uma oportunidade de pensarmos, juntos, muitas coisas juntas, de realizarmos nosso trabalho com a alegria, a esperança e a curiosidade epistemológica freireana, com a inquietude filosófica de Alexander, e, sobretudo, com a vontade de brindar ao mundo, fazendo-o melhor, em torno de nós.
E que seja o começo de uma aventura maior, feita de muitas aventuras compartilhadas!
abraços a todos,
Leandro
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